A EPIDEMIA SILENCIOSA: COMO A ANSIEDADE ESTÁ TRANSFORMANDO A SAÚDE MENTAL DOS JOVENS BRASILEIROS

Por: Portal NPOnline/Matéria Especial/Foto: Divulgação

Com o aumento exponencial de casos, especialistas alertam para a falta de suporte psicológico adequado e os perigos de uma geração à beira do colapso.

Nos corredores das universidades, nos escritórios de tecnologia e até mesmo nas salas de estar, algo invisível paira sobre a juventude brasileira. Enquanto o país ainda luta para se recuperar das cicatrizes deixadas pela pandemia de COVID-19, uma nova crise surge à espreita: a ansiedade. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior número de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo. Mas, se essa estatística já impressiona, ela não revela a extensão do problema entre os jovens.

O Alerta dos Especialistas:

Para a psicóloga Mariana Almeida, especializada em saúde mental de adolescentes e jovens adultos, o cenário atual é alarmante. “Temos uma geração que cresceu sob a pressão de expectativas altíssimas, conectada 24 horas por dia, exposta a comparações constantes nas redes sociais e que, muitas vezes, não encontra espaços seguros para falar sobre suas angústias”, explica.

A pandemia, segundo ela, acelerou um processo que já estava em curso. “O isolamento social, a perda de familiares, a incerteza quanto ao futuro… Tudo isso potencializou um problema que já vinha crescendo silenciosamente.”

O Custo do Silêncio:

Muitos jovens, ao perceberem os primeiros sinais de ansiedade — como insônia, crises de pânico e dificuldade de concentração —, não buscam ajuda imediata. A estudante de medicina Letícia Souza, de 22 anos, descreve sua experiência com o transtorno: “Comecei a sentir falta de ar durante as aulas e não entendia o que estava acontecendo. Demorei quase um ano para procurar um psicólogo, porque achava que era apenas estresse.”

Essa demora no diagnóstico e tratamento tem consequências graves. “Sem o suporte adequado, a ansiedade pode evoluir para quadros depressivos ou, em casos mais graves, até tentativas de suicídio”, alerta Mariana Almeida. Em 2022, o Brasil registrou um aumento de 30% nos casos de automutilação entre jovens de 15 a 24 anos, um dado preocupante que revela o desespero silencioso de uma geração.

A Falta de Suporte Público:

Embora o Brasil possua o Sistema Único de Saúde (SUS), que oferece atendimento psicológico gratuito, a realidade enfrentada por aqueles que dependem desse serviço é bem diferente. A espera por uma consulta com psicólogos e psiquiatras pode levar meses, um tempo precioso para quem vive em crise. “A falta de investimento em saúde mental é um problema crônico no país”, ressalta a doutora Camila Mendes, psiquiatra do Hospital das Clínicas. “Precisamos urgentemente de mais profissionais e campanhas de conscientização.”

O Papel das Redes Sociais:

Além dos desafios no sistema de saúde, as redes sociais têm desempenhado um papel ambíguo nesse cenário. Se, por um lado, elas oferecem espaços para discutir saúde mental e encontrar apoio em comunidades online, por outro, são também uma fonte constante de comparações irreais e gatilhos emocionais. “É uma faca de dois gumes”, diz a socióloga Juliana Ferreira. “A mesma rede que conecta pode isolar e intensificar sentimentos de inadequação.”

O Caminho para a Superação:

Apesar do cenário sombrio, há iniciativas que buscam reverter esse quadro. Movimentos como o “Setembro Amarelo”, que promove a conscientização sobre o suicídio e a saúde mental, têm ganhado força. Escolas e universidades também começam a incluir programas de bem-estar emocional em suas grades curriculares.

A jovem Letícia, hoje em tratamento, deixa um recado para quem enfrenta a mesma luta: “A ansiedade não define quem você é. Procurar ajuda é o primeiro passo para entender que você não está sozinho.”

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