Aline Dias / Por G1 PR / Divulgação
A estiagem atrasou o plantio da safra de feijão que começa a ser colhida no mês que vem. Quem conseguiu controlar a ansiedade e esperou por alguma chuva, correu para semear o campo depois que o tempo deu uma aliviada na estiagem, a partir de meados do mês passado. Nesta safra, tanto a área plantada quanto a produtividade total devem ser menores do que as do ano passado.
Ambrózio Lis é produtor de feijão preto em Prudentópolis. A propriedade dele tem cerca de um alqueire. Neste ano devido à estiagem que deixou a terra mais seca, ele precisou atrasar o plantio em pouco mais de um mês.
“A gente até pensou em plantar em agosto, sempre plantamos em agosto, pra fazer outro tipo de cultura após o feijão, mas com a estiagem não deu certo, né?” conta seu Ambrózio.
Estevão Maleski plantou na época de sempre, entre o fim de agosto e início de setembro e com a estiagem, não teve como controlar a quebra no desenvolvimento dos grãos que já estavam no campo. “O problema é o descontrole. um tá banhado já, outro florescendo, outro nem flor tem ainda, dai vai dar uma zebra depois na colheita, né?”, revela Maleski.
De acordo com o Deral, o Departamento de Economia Rural, ligado à Secretaria Estadual da Agricultura, o feijão é o grão que mais avançou no plantio, nas últimas semanas, depois da volta das chuvas. Cerca de 80% das lavouras estão em boas condições e são as melhores dos últimos cinco anos.
“De modo geral, o produtor sempre tentar antecipar o plantio pra conseguir fazer uma safrinha, seja de milho, fumo. O pessoal tenta plantar o mais cedo possível pra conseguir colocar uma safra seguinte na safrinha. Em decorrência do tempo que não estava colaborando, alguns produtores acharam melhor não fazer o plantio esperar a chuva. Quando a chuva veio, conseguiram colocar a máquina no campo e plantar” explica o técnico da Emater Heitor Amadeu Prezzi.
Neste ano, o feijão deve ocupar uma área total de 149 mil hectares, 2% a menos que ano passado. A produção também deve ser menor: 300 mil toneladas, 5% a menos que a última safra.
Prudentópolis é referência nacional em produção de feijão preto e, nesta safra, deve concentrar 11% de toda a produção do Paraná.
“Prudentópolis tem essa particularidade pela grande quantidade de mão de obra familiar, que facilita o cultivo de feijão e também pela predominância de pequenas propriedades, quando lá atrás era difícil não existia mecanização. então propriedades pequenas muitas vezes com terreno dobrado e abundancia de mão de obra, facilitava o cultivo”, diz Prezzi.
O preço do feijão preto pago ao produtor teve uma valorização de 108% em comparação com o ano passado, segundo o Deral. A saca do produto está cotada em uma média de 260 reais. O aumento nos preços foi provocado pelo consumo maior, em função da pandemia.
Os preços do feijão assustam os consumidores mas também quem é responsável pelas compras com o fornecedor. “No passado começamos com R$4,89 e acabamos a R$ 4. O preço caiu ao longo do ano. Esse ano não, só disparou, subiu, reduzimos margem mas está difícil comer feijão hoje”, disse o empresário Marcos Martins.
O feijão faz parte do cardápio garantindo a segurança alimentar, mas por causa do preço está sendo substituído por outros alimentos mais baratos, mas sem o mesmo valor nutricional. Neste mercado, as vendas do feijão caíram cerca de 35% nos últimos 3 meses em relação ao restante do ano. O alimento tem sido substituído por macarrão e farinha ou quirera de milho.
As estoques de feijão nos silos e cerealistas estão baixos e, sem ter o grão armazenado no Paraná e no Brasil , o reflexo vem no preço.
O engenheiro agrônomo Jhonatan Pontarollo conta que viu a demanda aumentar esse ano. “No começo da pandemia, o pessoal comprou muito mesmo, dobrei as vendas. Era a lei oferta e procura, ou seja, quanto mais o povo comprava mais mercadoria, mais faltava. E a estiagem deixou a produção comprometida”, explica Pontarollo.
Os preços pagos ao produtor pra poder ensacar o feijão subiram por causa da logística e do mercado internacional. Parte do feijão vendido no Paraná veio da Argentina e com o dólar em alta, o preço também aumentou.
Os fatores climáticos e de mercado fizeram os preços subirem entre 15 e 20% no quilo do feijão que sai desta cerealista para os mercados no Paraná.
Na comparação com o ano passado, o Deral calcula que o preço do quilo no varejo subiu quase 60% entre outubro de 2019 na comparação com o mesmo mês de 2020. Para baixar o preço, a próxima safra precisa ser melhor que as anteriores, conforme explica o engenheiro agrônomo do Deral Carlos Alberto Salvador.
“Quem define oferta e preço do feijão é o clima. O Brasil produz muito feijão e também consome muito feijão. Assim que a chuva voltar, a oferta volta e o preços ficam mais atraentes. Redução de preço é o que se espera daqui pra frente”, finaliza Salvador.